sábado, 30 de janeiro de 2010

Tecer Mundo
Tecer almas




sigo



e tento



teço.



consigo?


contigo...


conosco.


vamos?

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Esquizofrenia

O sangue derramado entre as mãos
As mentes poderosas dizem não
Os pobres fadigados querem pão
As vozes cantam a solidão

Partido, feito em pedaços
Os homens são duros como aço
Muitos tropeção em seus passos
E a vida segue seus compassos

Deixe que seu câncer o mate
Encomende seu palito para o alfaiate
Coma uma porção de tomate
Desconfiando do seu resgate

Nesta palavra vazia
Nesta mão fria
Ofereço um bom dia
E cuidado com a esquizofrenia

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

As dores do mundo

Não, não pôde dizer nada. Diante de todo aquele sofrimento, só lhe restou o silêncio. O abismo. E a certeza de sua vida estava para sempre mudada. "Vai menina, ser esquerda na vida" - as palavras de sua mãe agora traziam uma lembrança diferente, de escolha certa, e um imenso sorriso invadiu seu rosto. Pegou sua bandeira e desapareceu na multidão. Era preciso acreditar. E continuar.

Haiti: Acampamento servirá de base de apoio para movimentos feministas do país

Por Karol Assunção (jornalista da Adital)

Adital - O terremoto ocorrido na semana passada no Haiti deixou milhares de pessoas mortas, feridas e desabrigadas. Além de tentar resgatar as vítimas que ainda estão nos escombros de casas e edifícios que desabaram com o tremor, os haitianos enfrentam um novo desafio: reconstruir o país. Para ajudar nessa luta, o movimento feminista internacional está instalando um acampamento na fronteira entre Haiti e República Dominicana.

De acordo com Télia Negrão, membro da comissão executiva da Rede Feminista de Saúde, a intenção é que o acampamento sirva de base de apoio para os movimentos feministas e para as mulheres haitianas. Assim como em todos os setores do Haiti, as organizações feministas também precisarão se rearticular e se fortalecer.

Isso porque, segundo Télia, muitas lideranças morreram no desastre e as que sobreviveram estão abaladas emocionalmente. "Agora, o primeiro momento é identificar as líderes sobreviventes e prepará-las psicologicamente", comenta. Para ela, a preocupação maior das feministas do mundo todo é com a garantia da participação das haitianas na recuperação do país.

Télia explica que a ideia principal do acampamento internacional é construir uma rede de comunicação alternativa para fortalecer os movimentos sociais e de mulheres. "[Queremos] mostrar o outro lado dos fatos, a luta heróica dos haitianos e haitianas pela sobrevivência", revela.

Para facilitar o trabalho, acampamento está sendo instalado na cidade de Jimani, local estratégico, pois, além de ser o centro de comércio entre Haiti e República Dominicana, é a cidade para onde muitos haitianos e haitianas vão para tentar sair do país. Segundo Télia, a base contará com uma rádio, uma agência de notícias, um memorial às líderes feministas que morreram no terremoto e uma central de serviços.

De acordo com ela, a previsão é que funcione também, no local, uma unidade de saúde da mulher, que poderá ter ajuda psicológica e funcional às vítimas do desastre e da violência, intensificada em momentos como esse. "Esses serviços serão definidos em reunião nos próximos dias", afirma.

O acampamento está sendo implantado no país caribenho graças à ajuda financeira oferecida por entidades e movimentos de várias partes do mundo, como a da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe, a qual destinou os recursos de um de seus projetos à causa.

No entanto, para Télia, essa não é a principal contribuição da Rede. "Nossa principal ajuda é a solidariedade e a política, na discussão de estratégias de retomada da luta das mulheres na reconstrução do Haiti", destaca.


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Leia o texto no portal Adital

Os pecados do Haiti

"A história do assédio contra o Haiti, que nos nossos dias tem dimensões de tragédia, é também uma história do racismo na civilização ocidental."

Texto de Eduardo Galeano no site Carta Maior.

sábado, 16 de janeiro de 2010

carta

Carta aberta ao Sr. Ignácio Lula da Silva
Presidente do Brasil
Porto-Príncipe, HAITÍ
Quarta-feira, 28 de maio de 2008

Senhor Presidente,

O senhor terá notado que sua visita de hoje, 28 de maio de 2008, não recebeu as boas-vindas daquela de 2006 quando, acompanhado da “seleção”, enlouquecia a meio mundo, tratando de fazer-nos crêr que a lua é um queijo.

É que, na realidade, as máscaras caíram. Primeiro, pelo rotundo fracasso da MINUSTAH com respeito aos objetivos do próprio Conselho de Segurança da ONU em maio de 2004. Em seguida, porque já mais ninguém crê na “desinteresada ajuda” dessa missão. Nós entendemos de imediato os “subjacentes” desta “benevolência”. A vinda do filho do vice-presidente Alencar, proprietário da indústria têxtil mais importante do Brasil, a localizar as zonas francas e verificar com seus próprios olhos nossa famosa “mão de obra mais barata”, acabou de abrir-nos os olhos. Hoje, estão igualmente de visita uns capitalistas, seguramente ávidos eles também de apostar neste “ouro vivo”: vão se precisando os objetivos.

Mas há mais. O povo inteiro experimentou o comportamiento tanto dos altos responsáveis da missão, cobrando uma dinheirama - neste país tão desprovisto de tudo -, como o dos militares: a repressão nos bairros populares já não se tem que demonstrar, ao igual que a arrogância dos chefes em comando, ou a atitude dos soldados encaramujados em seus tanques, metralhadoras sempre apontadas à nossa frente, os quais, aproveitando-se da situação de dominação que instalam, cometem violações e outras exações que não têm nome… ou o terror semeado durante os últimos acontecimientos. O fundo e a forma já não deixam pois nenhuma dúvida: obviamente se trata de uma tutela armada, de uma ocupação, que a suposta “ajuda sul-sul” (que não é mais que uma solidaridade entre classes dominantes de país a país sob direção dos rapaces multinacionais) já não consegue enganar mais.

Como tudo isto foi tão longe? Como a revolução mais extraordinária do continente pôde dar à luz a tal profunda humilhação? Como governos resultantes das lutas dos trabalhadores e das mobilizações populares puderam chegar a jogar conscientemente o papel tão degradante de executor dos planos imperialistas? Tratamos de explicar-se-lo no texto adjunto “Todas as roupagens da mentira”, que diz, expõe a lógica de tal sentença, e os reais objetivos do projeto imperialista-burgués de exploração ilimitada. E o papel que ali lhe toca ao senhor. Rechaçando sua “ajuda” tal como a concebe e repudiando totalmente a presença de suas tropas armadas, termina preconizando que outra cooperação é possível “…que unificaría todos os operários, todos os trabalhadores e todos os povos, natural e fundamentalmente irmãos; na agricultura, na medicina, na construção de suas cidades, nos risos francos, nas danças e cantos então liberados, na produção coletiva e nos intercâmbios iguais.”.

Assim, senhor presidente, considerando que a presença das forças de ocupação da ONU no Haití constituem uma gigantesca bofetada no povo haitiano e em nossos ancestrais que lutaram para deixar-nos um território liberado de toda dominação extrangeira: em nome desta luta contra a dominação, em nome do direito à autodeterminação do povo haitiano, em nome do direito à vida de toda a gente caída sob as balas criminosas dos seus soldados nos bairros populares, mas também com o mesmo sentimento que o ajudou a declarar não grata a quarta frota estadunidense nos portos do seu país; e considerando a necessidade de establecer uma cooperação horizontal entre os povos do sul onde não existiria explotação, lhe requeremos, Sr. Presidente, proceder de imediato a retirada de suas tropas armadas de nosso país.

Yannick ETIENNE - Batay Ouvriye [Batalha Operária]

Camille CHALMERS - Plateforme Haïtienne pour un Droit Alternatif [Plataforma Haitiana por um Direito Alternativo]

Marc-Arthur FILS-AIMÉ - Institut Culturel Karl Lévêque [Instituto Cultural Karl Lévêque]

Guy NUMA - Mouvman Demokratik Popilè [Movimento Democrático Popular]

Ps.: Queríamos entregar-lhe esta carta em mãos próprias: a polícia nacional, que está sob o comando de seus militares, nos proibiu categoricamente toda aproximação e qualquer manifestação de livre opinião.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Sonhos de uma ficção

Seu nome era Nynguém de Brasil, tinha idade para ir para cadeia, mas não tinha para ter um império. No Brasil só tem império quem é filho de imperador, então a frase anterior não é verdadeira, mas Nynguém existe. Um rapaz bem aparentado, com muita esperança, digno e honesto até no ponto em que a vida o obrigava a ilegalidade. Ser extremamente honesto nestas terras é servir de capacho para as personagens cheias de títulos. Ele seguia a moral na maioria de suas regras e era feliz, pobre e feliz. Lia o que interessava aos seus olhos e caminha pisando sobre os seus sonhos com humildade e respeito pelas pessoas que o rodeavam.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

poema c

O poeta adormece na escuridão
Procura solitário uma lógica nas frases nuas
As Ruas abertas e olhos fechados
Anunciam mais um tufão

Coitada da alma desnaturada,
Sofre das calunias do orgulho
Percebendo o momento perdido
Desnortiando milhões de palavras

O prestigio não dura mais que um dia
Sofra de tédio ou de ódio
O teu fruto não será puro
E seus temores serão inofencivos

O despreso da guerra e de suas armas
Informe-se mais rápido
deixe que teus labios adormeça
E ame calado suas incertezas

Les yeux


Tara Macperson, detalhe de Playing With Fire - The Lover

Quer mais?

Aprendendo com Cecília

Hoje desaprendo o que tinha aprendido até ontem
e que amanhã recomeçarei a aprender.
Todos os dias desfaleço e desfaço-me em cinza efêmera:
todos os dias reconstruo minhas edificações, em sonhos eternas.

Esta frágil escola que somos, levanto-a com paciência
dos alicerces às torres, sabendo que é trabalho sem termo.

E do alto avisto os que folgam e assaltam, donos de riso e pedras.
Cada um de nós tem sua verdade, pela qual deve morrer.

De um lugar que não se alcança, e que é, no entanto, claro,
minha verdade sem troca, sem equivalência nem desengano

Permanece constante, obrigatória, livre:
enquanto aprendo, desaprendo e torno a reaprender.

(1961)

(grifos da aprendiz)

sábado, 9 de janeiro de 2010

Poema B

Sinta em sua boca o desejo doce

Sinta devagar o gosto precoce

Espere, dependente a sua posse

E tudo não passará de agridoce


A solidão marcara a felicidade

Somente acreditará se tiver idade

Deixando de lado toda sua vaidade

Jamais encontrará a tal verdade


Ame por ser e pensar

Em alguns segundos até amar

E perceber de longe um lindo olhar

Basta, ver, sentir a imensidão do mar

Poema

Tentarei mais uma vez ser otimista

Ficando longe da imagem cubista

Dos mitos de um espiritualista


Grossas linhas escrevo no papel

O inconsciente mostra-se réu

E o ser mais uma vez é infiel


A vida se torna uma cerimônia

Uma mera rotina de advocacia

Esperando uma sentença de anistia

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Prosa ou Poesia?

Antônio Dias, Os restos do herói, 1966

A CHUVA parou de cair. Procura por um certo rapaz, o mesmo que convidou uma certa moça para escrever um livro de poesias. Eu não escrevo poesias, ela disse, Prefiro a prosa. Adora Florbela, Manoel, Leminski, Drummond, Cecília, Clarice... Mas prefere ser prolixa a espremer sentimentos entre versos - talento admirável que ela não possui. Mas o tal moço, esse sim, imprime e exprime de tudo em versos. Dona Chuva, faz favor, quando achá-lo, diga que o embate o espera. Imagem e prosa há, agora falta rimar.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Chuva [3] ou... Ceci n'est pas un parapluie

(Magritte, Les vacances de Hegel, 1958)

Chuva [2]

(leminskiando...)


choveu


na carta que você me mandou.


quem mandou?